
- Oh...Está vivo! É um menino!
Ouve-se o choro do recém nascido e todos na sala de cirurgia choram e aplaudem. Mas a pressão da mãe está despencando:
- Pediatra! Onde tem uma pediatra?
- Não temos doutora.
- Meu Deus! Pegue a criança!
Enfermeiras!? Examinem o menino para ver se ele está bem e o aqueçam.
Preciso fazer alguma coisa porque senão esta mulher vai morrer.
A pressão caía e a homorragia
era constante. Com muito cuidado e destreza, a doutora Flora consegue
achar o local da homorragia e fechá-lo, mas a mulher ainda correr risco
de morrer.
- Levem para a UTI e cuidem para ela não ter nenhuma infecção.
Doutora Flora olha ao redor e
não acredita que está em um dos países mais miseráveis e corruptos do
mundo, a Somália. Dias antes estava no Brasil trabalhando em um renomado
hospital e dando aulas de medicina na USP. Sua área de atuação nem é
obstetrícia, mas sim Oncologia, mas naquele momento ela teve que colocar
seus conhecimentos teóricos em prática, ou aquela mulher e seu bebê
morreriam.
Mas como aquela mulher vencedora
de prêmios médicos, que já havia viajado meio mundo e com nome
reconhecido foi parar naquele país nada glamuroso? Pelo contrário, desde
que chegou não conseguiu descansar, foi direto para o principal
hospital da capital Mogadíscio e lá ela recebeu a indicação de ir em uma
região não muito longe dali, para tratar de pacientes com Câncer, mas
quando chegou no lugar percebeu que era um hospital de campanha que já
havia se tornado permanente, por falta de dinheiro público para se
construir um hospital digno para aquelas pessoas.
- Aqui doutora, a coisa é feia!
Temos que cuidar das pessoas praticamente sem remédios ou camas ou
recurso algum. - Disse o diretor do hospital ´´provisório``.
- Bom, vamos aos doentes. Quantas pessoas com Câncer vocês diagnosticaram aqui?
- Como? Ixi! Não sabemos doutora... mas a senhora não veio para ajudar os Médicos Sem Fronteiras?
- Sim, porque?
- É que eles nos disseram antes
de sair para uma aldeia a mais de 400 km daqui, de que a senhora nos
ajudaria com todos os pacientes.
- Todos? Mas sou Oncologista não Clínica Geral!
- Mas doutora...
Nesse momento aparece um homem
chamando e se ouve os gritos de sua mulher. Grávida de 9 meses, está
tendo uma hemorragia e o bebê não consegue nascer.
- Pergunte a ele a quanto tempo ela está em trabalho de parto?
- Ele disse que desde ontem a tarde.
- O quê? Mas já são mais de 11 horas da noite! Faz quanto tempo que começou a hemorragia?
- Ele disse que agora a pouco.
- Então vamos levá-la para a sala de cirurgia, ela não pode mais esperar!
- Mas o que você vai fazer?
- Vou fazer uma cesária de urgência. Rápido doutor, prepare tudo o mais depressa possível!
A sala de cirurgia parecia tudo,
menos uma sala de cirurgia. Com uma visão rápida ela viu ratos, lixo,
poeira e insetos. Foi nesta hora que ela, em poucos segundos orou:
- Senhor, vim para esse lugar a
convite de uma grande amiga. Vim para conhecer e ajudar mas sabes que
neste momento a coisa que mais queria era ter negado esse convite. Mas
estou aqui! Agora Jesus, me ajude a salvar a vida dessa mulher e seu
bebê. Estamos nas suas mãos. Amém!
Quando o médico-chefe voltou,
ela então começou a operação. Ela tinha apenas o anestesista, o
médico-chefe que nada fazia a não ser questionar cada manobra da doutora
e duas enfermeiras. Quando o bebê nasceu e chorou, foi o único momento
de paz que ela vivenciou em tão pouco tempo naquele país.
Ao sair da sala de cirurgia, com
a mãe estável na UTI provisória, ela foi ver o bebê em outra sala, onde
as enfermeiras já o haviam limpado, colocado uma roupa quentinha e ele
dormia respirando bem.
- É um meninão! - Disse a enfermeira chefe, uma inglesa a anos no país e que chegara de uma consulta em um vilarejo vizinho.
- É... é verdade, um lindo menino.
- Parabéns, doutora! Quem se
arriscaria a fazer um parto difícil desses num país como esse, tendo
acabado de chegar, cansada, com fome e pior, nem é para isso que a
senhora veio aqui! Veio para ver pacientes com Câncer. Mas seu primeiro
paciente foi um menino que acaba de chegar ao mundo e graças a Deus, com
saúde.
- Nossa, verdade!
- Mas o mais incrível doutora é
que a senhora veio justamente na véspera de Natal e pôs o bebê no mundo
exatamente no primeiro minuto do dia 25 de Dezembro!
- É... eu não tinha nem lembrado
que era Natal. Sabe, sou cristã evangélica, e apesar de toda a
simbologia do Natal, ele não passa de uma simbologia, não sabem ao certo
o dia do nascimento de Cristo e definitivamente não acredito em Papai
Noel!
- Ha ha ha ha ha... Concordo!
Sou também uma cristã evangélica como você mas penso que mesmo não
sabendo a data certa de seu nascimento, sabemos que ele um dia nasceu,
viveu neste mundo e morreu para nos dar vida e com abundância. Hoje Deus
deu a você a paz que a muito tempo havia perdido. Sei que é estranho
dizer isso, num lugar como esse com tanta tristeza ao redor, mas Cristo
hoje te dá uma perspectiva nova da sua vida e que ele a capacitou para
ajudar outras pessoas a encontrar a vida não somente física mas eterna.
- Olha, você tem razão. Quando o
bebê nasceu senti realmente uma paz tão grande que consegui terminar a
operação com calma. É, orei pedindo a Deus que me ajudasse e ele me deu
mais que isso, me deu paz.
- Então, doutora, feliz Natal e
vamos agradecer e parabenizar o nosso Jesus! Mesmo sendo um país
muçulmano, eles respeitam e nos deixam fazer uma ceia de Natal. Venha,
vamos compartilhar Cristo com todos!
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